11.3.15

o culto formal

Um tempo atrás, quando mudei de igreja, ouvi de alguém a frase: “você vai para aquela igreja? Eles são tão formais!” O ‘formais’ foi na verdade um eufemismo para frios, pois de fato, está impregnado na cultura do culto contemporâneo a necessidade da agitação corpórea, da excitação mental e de manipular a congregação a um sentimentalismo coletivo.
Pois bem, independente do que me diziam e afirmavam, que incluía enterrar meus dons, troquei de igreja, e apesar de muitos anos fora de uma igreja com uma liturgia digamos, mais tradicional, não tive dificuldades em me (re)adaptar rapidamente ao novo/antigo ambiente. Com o tempo tive a percepção de que aquele ambiente era menos formal que poderia ser o ambiente de qualquer outra denominação não “tradicional” ou histórica do qual eu já tivesse participado.
As igrejas contemporâneas têm a tendência em tornar o culto que elas julgam ser movido pela liberdade do Espírito Santo, em uma liturgia repleta de ícones e simbolismos que tornam aquele ambiente extremamente formal - por vezes bem bagunçado e desordenado, mas formal. O período de louvor é o ápice dessa liturgia, com a missão de encaminhar toda a coletividade num mover de que “o mundo ficou lá fora e aqui esquecemos todos os problemas”, com letras de músicas antropocêntricas e um som muitas vezes desmedido para os metros quadrados que dispõe a congregação.
Segue-se a estes momentos o da oferta, que não raras vezes é precedido de uma palavra de alerta àqueles que dão ‘brecha para o devorador’ em suas vidas e que é procedida de uma oração que ‘repreende a mão do devorador’ sobre os que ofertaram. Há também o momento do apelo final ou oração final onde, sem nenhuma conexão com o sermão da noite, as pessoas são encaminhadas à frente do altar para receberem imposição de mãos e unção com óleo. Não parece, mas tudo isso é extremamente formal.
Onde reside a formalidade? Tire isso de um único culto nessas igrejas, apenas um desses elementos litúrgicos, e o pastor ouvirá durante toda a semana que aquele foi um culto ruim, foi um culto onde Deus não agiu e não se viu a obra do Espírito Santo. Acontece que, após o louvor “esqueça o mundo lá fora”, essas pessoas reencontram o mundo lá fora exatamente como o deixaram, após a imposição de mãos aquela dor persiste e após ofertar o que não se tinha e a oração forte que repreendeu a mão do devorador, na segunda-feira aquele homem ou mulher descobre estar demitido. Entenda, eu creio no poder da oração, no Deus que cura, na oferta como adoração e no louvor ao Senhor... então não é contra isso que estou falando (ou escrevendo).
Veja, este texto não é contra o período de louvor, contra a oferta ou contra a oração com imposição de mãos, se alguém até aqui está lendo e interpretando isso, comece a ler novamente. Minha crítica é ao que isso se tornou na igreja. O louvor tomou o espaço em importância e relevância da Palavra de Deus na Igreja, novos e velhos crentes têm seus conceitos cristãos e teológicos construídos sobre o frágil alicerce de letras de músicas, muitas (muitas mesmo) delas sem nenhuma condição espiritual de serem entoadas por um cristão. A oferta, deixou de ser um momento de adoração para ser um momento de coerção entre pastor e ovelhas, e de barganha das ovelhas com Deus. E por fim, a oração com imposição de mãos tem revelado o que há de pior dentro da igreja, que é o estrelismo que alguns julgam ter sobre outros e que é alimentado por uma massa sedenta por uma benção alcançada no melhor estilo fast-food: “pediu, pagou, levou”.
A igreja contemporânea está a criar cada dia novos ícones e símbolos, sejam eles ações ou palavras, e gradativamente abandona o culto simples que tem como objetivo ensinar a igreja a ser uma conhecedora da Palavra, imitadora de Cristo e efetivamente relevante nesta terra.
Voltemos ao Evangelho, puro e simples.
Publicado originalmente no blog Púlpito Cristão em 06/01/2015

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