30.3.15

chá do Teo: A Trindade

Quantas vezes você já parou para pensar na Trindade? Certamente alguma vez você se fez essa pergunta, aí questionou alguém que você julgava saber mais que você, e achou tão complexo o assunto e talvez tão “irrelevante” para sua Fé, que logo abandonou o interesse. Talvez, para não ficar solto na sua mente, adotou algum sistema ou alguma analogia para quando perguntado usá-la, mas nada além disso.
Não sou muito inclinado ao uso de modelos ou analogias que expliquem a Trindade. Por muitos anos usei e pensei em diversos sistemas que simplificavam a explicação e me davam algum conforto para crer em algo tão absurdamente maravilhoso. Ainda que exista uma boa intenção nessas reduções para se explicar a Trindade, creio que todas elas apresentam elementos que podem confundir as três pessoas ou mesmo separá-las de forma a destruir esta unidade. Minhas concepções a respeito de como entender e explicar a Trindade mudaram quando em um congresso de teologia ouvi um respeitado teólogo perguntar a plateia quantos ali entendiam a Trindade, muitos levantaram as mãos (inclusive eu), e como resposta recebemos: “– depois desta reunião gostaria muito de conversar com cada um de vocês, pois eu ainda não entendo a Trindade. Eu creio nela, mas não a entendo”.
Meu objetivo com esta série de estudos que começamos hoje não é apresentar uma visão complexa e dispersa das doutrinas fundamentais do cristianismo, mas de forma simples e sem ser superficial, dar suporte a quem se interessar a aprofundar os seus estudos bíblicos sem o medo de encontrar no caminho um labirinto de onde não pode sair. A Palavra Deus é de uma clareza espetacular, seus textos foram inspirados por um ser espiritual e de mente inalcançável, mas foi escrito por pessoas simples, muitos deles sem nenhum grau de instrução formal e que recorreram a outros para que suas palavras pudessem ser escritas. A Bíblia não é um enigma, a Bíblia é o texto mais claro já concebido, nenhum tutorial na internet é tão claro, tão objetivo e perfeito quanto as Escrituras Sagradas.
No entanto, é o Espírito Santo, uma das três pessoas da Trindade, que nos capacita a entender a espetacular Palavra de Deus (outra pessoa da Trindade) e a partir dela compreender o sacrifício realizado na Cruz por Cristo (uma outra pessoa da Trindade). Necessitamos desesperadamente dele para compreendermos a Sua Palavra.
No Novo Testamento, temos claramente apresentadas as três pessoas da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são retratados de forma fiel como sendo: Co-Eternos e Co-Iguais. Eternos por que desde o princípio eles existem (Gênesis 1.1-2 e João 1.1-3 – Aconselho que durante a leitura você interrompa e leia estes textos, acredite na Palavra de Deus, não apenas no que eu escrevo. Use uma Bíblia on-line para facilitar). Eles também são iguais, mas não os mesmos. Veja, se você for a uma loja poderá comprar uma TV de Led fabricada pela LG, e seu vizinho também poderá comprar uma TV de Led fabricada pela mesma empresa, elas são iguais, mas não são as mesmas. Logo, “Iguais” não é sinônimo de “mesma”.
Durante muito tempo, e ainda hoje, várias correntes doutrinárias tentaram explicar a Trindade, muitas deles incorrendo em erros teológicos graves (heresias), que em algum ponto colocavam-se contrários aos ensinamentos bíblicos. Como o “Modalismo” ou “Sabelianismo”, que reduziu a Trindade a um único Deus que hora se apresenta com Pai, ora como Filho, ora como Espírito Santo. Uma das explicações comuns a se ver na Trindade, ainda hoje, é da analogia com a água. Dizemos que a água pode se apresentar em três formas: sólida, líquida ou gasosa. Isso é verdade. Apesar das três formas distintas, é sempre água. Mas isso não é Trindade e é uma heresia. Pois Deus não se apresenta de três formas. Ele é Pai, mas não é o Filho, tampouco é o Espírito Santo. Ele não muda sua forma para cumprir uma função diferente, ele não pode ser comparado a água em diferentes estados, porque ele apesar de Ser Deus Pai, nunca será, Deus Filho. (Esse exemplo é apenas para demonstrar como nossas explicações, por mais bem intencionadas que sejam, podem ser extremamente perigosas).
Apesar de ser uma doutrina melhor compreendida a partir do Novo Testamento, já na Criação Deus apresenta-se por vezes utilizando a primeira pessoa do plural Nós: “façamos o homem a nossa imagem e semelhança…” (Gênesis 1.26) assim como Único: “… nosso Deus, é o Único Senhor” (Deuteronômio 6.4).
Assim temos que: Deus é Pai. O Criador que Governa o Universo e é Pai Espiritual de todos os que são justificados em Seu Filho, Cristo. Cristo é o Filho, ele é chamado de “Deus Forte e Pai da Eternidade” (Isaías 9.6), de “O Verbo que é Deus” (João 1.1) e de “Eu Sou” (João 8.58), mesmo atributo de Deus (Êxodo 3.14). Por fim, o Espírito Santo, recebe os mesmos atributos de Onisciência (1 Coríntios 2.11) e Onipresença (Salmos 139.7), entre outros.
A Bíblia então apresenta Jesus Cristo como sendo Deus mas em um relacionamento de Filho para com Pai. Eles são a mesma substância, compartilham a mesma inteligência, pensar, poder e atributos, a relação entre os dois é eterna e não existe uma relação de subordinação ou superioridade. O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade. Ele procede do Pai e do Filho simultaneamente. Mas não é inferior a nenhum deles, mas igual. A distinção entre eles é feita de forma funcional e subordinada as outras pessoas apenas em realizações específicas.
Como isso se explica?
O Filho (Cristo) submeteu-se ao Pai (Deus) para ser enviado ao mundo para morrer pelos homens (1 João 4.14) e obedece ao Pai até a morte de Cruz (Filipenses 2.8). O Espírito Santo, submete-se ao Filho para glorificá-lo levando homens ao arrependimento e conversão (João 16.14). Deus, perdoa o homem o justificando na obra de Cristo (Romanos 8.33). Assim, apesar de terem funções diferentes, possuem a mesma essência.
Por fim, temos que ter claramente uma coisa. A Trindade (termo que inclusive não encontramos na Bíblia) representa uma síntese de tudo que encontramos na Bíblia a respeito do Pai do Filho e do Espírito Santo. Ela está além da nossa razão humana de entendimento pleno, mas não contraria a nossa razão. O teólogo Don Green explica que pensar que “três pessoas é uma pessoa” seria um erro e uma irracionalidade, no entanto, pensar que “três pessoas é um Deus”, não contraria nossa razão, nem tampouco contraria a Palavra que Cremos e onde depositamos nossa inteira confiança. Portanto, creiamos na Trindade, não como um sistema ou modelo a ser decorado, mas como uma doutrina a ser por toda uma vida compreendida, pois é a expressão exata de nosso Deus.
Texto publicado originalmente no Pelo Amor de Deus, em 30 de março de 2015.
Série de Estudos Teológicos: Chá do Teo

sua igreja segue a agenda?

á passa das 21:37, a reunião que começou as 19:45 com uma oração de 31 segundos ainda não saiu da primeira pauta: a agenda do mês. Os primeiros 20 minutos foram dedicados para definir em qual sábado seria realizado o “Almoço da Família de Mãos dadas com Cristo” e o “Sábado do Cachorro-Quente Fogo no Monte Carmelo”. A líder do ministério de casais, que organiza o almoço, brigou pelo primeiro sábado do mês pois é quando o pessoal acabou de receber o salário e está mais disposto a vir ao jantar... mas a líder do ministério de Jovens pensa o mesmo. Após algumas faíscas que geraram uma fogueira entre as irmãs, o pastor decide tomar a frente e decide: “o primeiro sábado é do “Almoço”, o segundo do “Cachorro-Quente”; Põe na ata!”

A primeiro domingo do mês também é o domingo de Ceia, e a irmã líder do ministério de “Achados e Perdidos” quer aproveitar e fazer um brechó com roupas, óculos e bíblias deixadas pelos membros na igreja nos últimos meses... “temos uma regra, passou 3 cultos vai pro brechó!”. O pastor acha a ideia boa, mas a discussão volta em relação ao “Almoço da Família”, casualmente esse mês começa no domingo, então se os membros gastarem dinheiro no brechó não terão dinheiro para o Almoço, argumenta a líder do ministério de casais. São mais 25 minutos, o pastor deixa o brechó para o segundo domingo... a líder do ministério de jovens reclama... empurra o brechó para o terceiro domingo.., a líder do ministério de Achados e Perdidos acha que é melhor nem fazer o brechó... o pastor lembra que o pastor ali é ele... o brechó vai sair, a líder queira ou não... quem decide é Espírito Santo diz ele: “Põe na ata!”

Sexta-feira 13, o ministério “Dançando empolgado na chuva até o dia clarear” foi convidado para participar de um evento na cidade vizinha, mas no mesmo dia o ministério de louvor foi convidado para estar em uma igreja próxima... o líder do louvor lembra que metade dos membros do louvor estão na dança... a líder da dança diz que é importante o ministério participar do evento... o pastor agora está indeciso, o líder do louvor é seu filho e a líder da dança é sua nora... o líder do louvor diz que alguém tem que ser prioridade... a líder da dança diz que a prioridade é Cristo... o líder do louvor da piti... a da dança começa a chorar e abandona a reunião... o pastor não sabe mais o que fazer... o líder do ministério do krav maga entra em ação e com dois dedos deixa o líder do louvor dormindo... o pastor se acalma, verifica se o filho ainda está vivo, alívio, olha atravessado para o líder do krav maga, vai dar disciplina... partimos para o próximo ponto: “Domingo com Jesus e as Crianças” ou “Domingo com os pais e Deus”?... “Põe na ata!”

Minha descrição é bastante exagerada, mas já participei de muitas reuniões de agenda junto ao clero e sei bem como é. Mas o que tem acontecido nas igrejas contemporâneas é uma intensa disputa entre líderes e ministérios, todos buscando de alguma forma provar a importância do seu ministério e de sua grade de programação. Mas ao olhar a maioria desses lugares, não há nenhuma coesão no que fazem, cada um corre para um lado buscando de alguma forma provar que o seu método ou em casos mais espirituais, a sua unção, é maior ou melhor que a do outro.

Pastores podem ser “objetivos” em dizer o querem das pessoas que vão a sua igreja: um pode dizer que quer “discípulos de Cristo” e outro que quer “verdadeiros adoradores”; mas você já ousou perguntar como eles querem fazer isso? A resposta provavelmente será tão confusa como foi o último dia dos construtores da Torre de Babel. Como pastores podem afirmar que em suas igrejas há ensino da Palavra, quando seus membros mais destacados são analfabetos funcionais nos temas mais elementares do cristianismo? Como pastores podem afirmar que pastorearem igrejas saudáveis, quando o índice de divórcio e afastamento da congregação é alto? São eles cegos ou mentirosos? Acontece que a agenda da igreja se tornou mais importante que qualquer outra coisa. O sábado que foi feito para o homem, inverte seu papel e agora o homem serve ao sábado. Os membros são coagidos a moldarem suas vidas não a Cristo e a Seu Evangelho, mas extorquidos psicologicamente a adaptarem toda a sua programação a agenda da igreja, que vorazmente tem o papel de podar e amputar os membros.

Se o tempo que a igreja passa organizando sua agenda de atividades da semana é maior que o tempo que ela passa orando e estudando a Palavra de Deus, é porque tem alguma coisa muito errada que não está certa. Uma igreja que preza pela Conversão de pessoas a Cristo não é aquela que cria uma gigantesca gama de atividades para ocupar seus membros durante a semana, mas a que cria um real vínculo do cristão com a Palavra para toda a vida.Pastores, abandonem a igreja da agenda. Abracem de forma quase sufocante uma igreja que não está preocupada em ocupar todos os dias da semana com um evento diferente para prender seus membros... acreditem, outras igrejas podem fazer eventos melhores e você perderá seus cabritos... abracem ferozmente a doutrina bíblica de discípulos de Cristo... reduzam a carga que vocês tem imposto a jovens e adolescentes, os incentive a estudar e serem bons pais, responsáveis, trabalhadores, missionários, pastores... e não desocupados pelos bancos das igrejas... invistam alto no Ensino da Palavra, tire os recursos do entretenimento gospel e invistam no crescimento espiritual da igreja, uma ovelha vale mais que 100 cabritos... temos liberdade em Cristo, não use sua posição eclesiástica para impor aos membros um outro fardo: o da agenda. Deixe que carreguem tão somente a cruz imposta por Cristo. Um fardo leve a perfeitamente apropriado a nós.


Libertem-se de vocês mesmos!

Texto publicado originalmente no blog Púlpito Cristão, em 27 de março de 2015.

a porta estreita e o caminho apertado

Difícil encontrar um cristão que não conheça este texto bíblico. Ele faz parte daquela lista de versículos que mesmo quando não sabemos sua localização nas páginas da Bíblia, nós o decoramos. Ele é um versículo que resume em si a natureza do Caminho que conduz a Salvação, e a natureza da própria vida cristã, e por isso ele é tão conhecido e tão importante.
Este texto também faz parte do “Sermão do Monte”, o primeiro registro bíblico e histórico de Cristo pregando a natureza da vida daquele que serve a Deus, e após discorrer sobre os vários aspectos daquele que segue a Cristo, daquele que o imita, Ele diz: “Eu não estou dizendo que tudo isso é fácil, porque estreita é a porta da Salvação e o caminho para chegar lá é apertado.”.
Se andássemos pelas páginas da Bíblia, aparentemente encontraríamos uma contradição nos ensinos de Cristo, pois afinal, não disse o salmista e rei Davi: “o caminho de Deus é perfeito…”, não apenas uma, mas duas vezes? (Salmos 18:302 Samuel 22:31). E posteriormente, ainda no texto do livro do profeta Samuel, não diz Davi: “Deus torna perfeito o meu caminho.” (2 Samuel 22:33 paráfrase)?
Quando Jesus disse aquela multidão que estava ouvindo suas palavras “o caminho é apertado”, ele não quis dizer “o caminho é imperfeito”. Ele não escreve por linhas tortas como o ditado popular afirma, mas por linhas perfeitas e claras. Acontece que como todas as coisas que o homem tem dificuldade para se ajustar, o caminho preparado por Deus também parece imperfeito aos olhos do homem. Assim, o caminho de Deus perfeito ao homem, deveria ser espaçoso, pavimentado e na descendente.
Obviamente as lentes que Deus usa para enxergar o mundo são de plena santidade e sabedoria, e as minhas são, na melhor das intenções, embaçadas pelo pecado. Nosso padrão de perfeição, tão defeituoso e cheio de preconceitos desde sua origem é mais facilmente assimilado, afinal, nós mesmos o idealizamos e construímos.
Assim, o caminho proposto por Cristo torna-se muitas vezes inadequado ao nosso estilo de vida, pois ele aparentemente nos priva daquilo que é bom, quando na verdade ele nos priva do que é mau, nós apenas temos dificuldade em perceber e aceitar. Dentro dos meus conceitos naturais, eu não posso deixar toda essa vida passar privando-me de tudo aquilo que eu julgo ser bom.
Logo, o caminho precisa ser suficientemente largo para que eu, durante minha vida, possa usufruir dos “prazeres do pecado” e “dos benefícios da Graça”. Paulo já convivia com esse problema na igreja no seu tempo, vemos isso quando perguntou a igreja de Roma: “Continuaremos pecando para que a graça aumente?” (Romanos 6:1 NVI). A pergunta é imediatamente seguida de uma resposta clara e objetiva do apóstolo: “De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele? (Romanos 6:2 NVI).
O caminho apertado que trilhamos até chegarmos a porta estreita, é o caminho que começa exatamente no momento em que morremos para o mundo, ele inicia no exato momento em que somos batizados com Cristo em sua morte (Romanos 6:3) e com Ele ressuscitamos e iniciamos nossa nova vida (Romanos 6:4-5). Este caminho apesar de apertado, é perfeito. Ele é perfeito não porque não existem subidas e descidas, não porque é plano e perfeitamente pavimentado. Este caminho é perfeito porque Ele é o próprio Cristo (João 14:6). É um caminho perfeito porque ele foi preparado para conduzir homens pecadores a justificação. Ele é perfeito porque é uma obra do Criador. E ainda que apertado, é perfeito.
Por fim, se realmente entendêssemos a afirmação do apóstolo Paulo: “onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.” (2 Coríntios 3:17 NVI) compreenderíamos que a liberdade que temos sendo escravos da justiça de Deus e do seu amor, com acesso direto ao Santíssimo pela destruição do véu na morte de Cristo, não teríamos nenhum prazer em virar para esquerda ou direita, não nos importaríamos de caminhar no tão apertado caminho, pois nosso alimento, nossa vontade e nossa vida, seria fazer exclusivamente a vontade de Deus.
Pense nisso.
Texto publicado originalmente no Pelo Amor de Deus, em 23 de março de 2015

21.3.15

pastor ou super-star?

Vejo a igreja brasileira passando por dois processos distintos. Um processo, inclusive neste blog é bastante retratado, é o inchaço que a igreja institucionalizada brasileira atravessa, fruto de uma pregação díspar ao Evangelho, pior que isso, contrária a Palavra em quase todas as suas manifestações e que distorce as Escrituras em prol da construção de impérios pessoais de líderes megalomaníacos e sedentos por fama e riqueza. Um outro processo é o inverso deste. Uma igreja que se levanta, inclusive dentro dessas mesmas instituições onde o caos espiritual se instalou, e que diz não ao paganismo gospel, o abandona e condena, e defende um retorno a um Evangelho estritamente bíblico.

No entanto, como escrevi em meu texto, Novos Reformados meio deformados, um grande número de auto-proclamados cristãos reformados, têm pregado um Evangelho tão distorcido e egocêntrico quanto aquele que se vê no decadente movimento gospel. Alguns textos, piadas (piadas pseudo-reformadas são as mais estúpidas que encontro na internet) e vídeos, são a prova final de que ali há ausência de Teologia Cristã sadia e excesso de ignorância doutrinária e estupidez humana.

Um tempo atrás, viajando a outro Estado, conheci um pastor que liderava uma pequena comunidade cristã que se apresenta como reformada. No entanto, a única coisa reformada que encontrei em sua igreja foram as instalações. Sua pregação era uma mistura de tudo e em pouco mais de uma hora de discurso (aquilo estava longe de ser uma pregação), ele falou de política, economia, moda, indicou séries de TV e até leu um texto bíblico. Contudo, sua pregação nada mais era do que um discurso do seu ponto de vista do mundo.

Isso me abriu os olhos para começar a ver e ler alguns vídeos e textos na internet, ainda que de blogs e sites auto-proclamados reformados, de uma forma um pouco diferente. Não pensando exatamente o que aquele texto queria 'dizer' mas o que seu autor 'queria' com aquele texto. 

O que comecei a perceber ao ver e ler vídeos e textos em alguns blogs e nas redes sociais, é que alguns estão esperando apenas "likes" e comentários. A máxima de pregar o que a igreja quer ouvir, tão profundamente emaranhado na teologia da prosperidade, é realizada com muito sucesso também no pseudo meio reformado. São ávidos em produzirem material "polêmico", sem nenhum argumento e que nada produz em quem lê ou vê senão ódio e revolta. Criticam outros pastores apenas baseados em uma percepção pessoal e não em fundamentação bíblica profunda. São excelentes papagaios imitadores de pregadores reformados estadunidenses vistos no Youtube, mas péssimos cristãos vistos no dia-a-dia. Chocou-me ler em um texto, um rapaz que afirmava preferir ler Mark Driscoll a John Piper, pois aquele era mais moderno que este. Não foi o gostar mais de um ou de outro pastor (preferências são naturais ao ser humano, eu tenho mesmo minhas preferencias), mas porquê sua avaliação estava fundamentada em um aspecto superficial e não bíblico ou espiritual.

Percebo também, muitos que algum tempo atrás estavam em seu momento infantil do Evangelho, e que hoje produzem textos e vídeos melhores, que aparentemente amadureceram e reorientaram sua pregação, vejam, minha crítica não é a quem faz isso na internet, eu mesmo escrevo na internet e nas redes sociais. Minha crítica é aos que tem usado isso com os mesmos objetivos dos líderes neopentecostais. Minha crítica é aqueles que insistem em um modelo que parece estar dando certo com "desigrejados". Uma pregação pautada em uma dura crítica a sociedade cristã brasileira, mas que não avança além disso; jovens que são capazes de atacar o neopentecostalismo, mas não defender o Evangelho. São profundos em perceber os equívocos doutrinários dos tele-pastores, mas superficiais em perceber a ausência de doutrina bíblica em seus discursos e vidas.

Nós precisamos ser mais criteriosos e rígidos nas nossas definições do que é uma Teologia cristã reformada e realmente fundamentada na Palavra de Deus, ou corremos o risco de sermos acusados (se já não somos), de ser tão diferentes de Cristo quanto o movimento gospel e suas "teologias" deturpadas são.


Soli Deo Gloria. Sola Scriptura.

Texto publicado no blog Púlpito Cristão em 20 de março de 2015.


16.3.15

o que é a conversão?

Um método que gosto de usar para explicar muitas coisas é começar dizendo o que elas não são. Gosto de usar isso quando alguns temas possuem definições populares mas que, apesar de bastante difundidas, estão em desacordo com as Escrituras.

Primeiro: Conversão não é uma decisão ou resolução moral do homem. Uma conceito bastante popular de conversão está ligado a vida moral dos que professam a Fé cristã. Crente não rouba, não mata, não bebe... Ora, roubar não é algo proibido ou imoral apenas para cristãos, mas para ateus, espíritas, budistas e para qualquer ser humano, o ato de roubar segue uma convenção social universal de que é imoral. Logo, Conversão não é assumir a partir de um momento a necessidade de praticar boas obras e viver de forma correta na sociedade em que se está inserido.

Segundo: Conversão não é uma decisão intelectual. É comum em algumas denominações o momento do apelo final ou o “convite a Salvação”. Veja, após um sermão de 45 minutos, onde a pessoa foi exposta a uma explanação sobre um assunto bíblico que não necessariamente trata especificamente do arrependimento, do perdão e do poder da Cruz, temas básicos para compreender a Salvação, aquele homem ou mulher é submetido a uma oração realizada por repetição e recebe, de forma quase que papal, a Salvação. Isto é obviamente um atentado a ensinos básicos do Evangelho e não encontra suporte bíblico senão na fragilidade de alguns versículos mal interpretados.

O que é a Conversão então? A Conversão é um processo e não um momento, por isso ela não pode ser fundamentada em uma decisão tomada por alguém ao final de um sermão que pode ter mexido com o emocional dessa pessoa, mas não com sua mente. A Conversão também é uma alteração de caminho, uma mudança radical naquilo em que creio e confio. A Conversão significa que agora meu coração caminha e deseja caminhar em direção a Deus e rejeita de forma absoluta e incondicional aquilo que é desprezado por Ele.

Conversão é uma profunda mudança de confiança. A minha confiança depositada nas minhas habilidades, bens, amigos, governo etc. é substituída por uma confiança plena em Cristo. Minha esperança neste mundo e naquilo que posso conquistar por meio das minhas capacidades é substituída pela Esperança que tenho em Cristo e naquilo que Ele não irá conquistar, mas já conquistou de forma gloriosa na Cruz.

O chamado dos discípulos é algo fantástico de se analisar, a simplicidade do ato de Simão Pedro e André ou João e Tiago, largando suas redes (Mateus 4.18-22) ou de Mateus abandonado seu posto na alfândega (Mateus 9.9) e seguindo a Cristo, tem um profundo significado espiritual para explicar a Conversão. O poder do chamamento de Cristo e a convencimento gerado pelo Espírito Santo, faz com que o homem abandone de forma imediata aquilo em que ele deposita sua confiança.

Por fim, Conversão é um ato de Ressurreição. Pega-se um cadáver, um corpo totalmente sem vida pois não há Espírito nele, o Pecado não apenas o aprisionou mas o consumiu até a morte, não passam de ossos secos e empoeirados. Então, fazendo uso de seus ministros, nós, os salvos, os já convertidos, Deus diz: “Diga a esses ossos: Ouçam a Palavra de Deus!” (Ezequiel 37.4). E a Palavra, não nós, mas a Palavra, a mesma que gerou o Universo do absoluto vazio e ordenou toda a Criação, faz com que ossos secos e sem vida criem juntas, nervos, carne e um coração pulsante.

Conversão nada mais é do que a sobrenatural atuação do sangue de Cristo por meio da pregação da Palavra de Deus, que tem o verdadeiro poder de ressuscitar os mortos. Então pregue a Palavra de Deus. Ressuscite os mortos.


Soli Deo Gloria

Texto publicado no Pelo Amor de Deus em 16 de março de 2015.

13.3.15

novos reformados meio deformados

Uns anos atrás, após um sermão em uma igreja onde era convidado, um rapaz puxou assunto comigo logo após a reunião e largou: “parecia o Paul Washer”. Legal né? Se você é batista e reformado, ouvir isso pode soar com um grande elogio... ou não. Isso me lembrou uma conversa que tive com um jovem pastor, que após uma reunião me perguntou o que eu tinha achado, após algumas anotações fui direto: “você podia ser menos o Mark Driscoll e mais você mesmo”.

Depois de conversar um pouco mais com aquele rapaz que me “elogiou”, fazendo uma comparação com Paul Washer, entendi que ele não me achava parecido na maneira de falar ou mesmo de pregar, mas estava relacionado ao conteúdo do sermão daquela noite, que havia sido sobre o Pecado.

No entanto, os jovens reformados que pululam nas igrejas históricas ou não, são em parte reformados apenas nas suas declarações, nem mesmo o são em sua defesa do Evangelho. Ao conversar com alguns jovens, de pouco mais ou pouco menos de 20 anos que já criaram seminários, cursos de missões e igrejas, percebi que a maioria deles não tinha nenhuma experiência sequer de vida.

Nunca fizeram uma faculdade ou seminário teológico, alguns nem terminaram o ensino médio, não são casados, leram poucos livros e em geral de um único autor/pastor, o “preferido”, tem pouco ou nenhuma experiência ministerial, etc. Percebi que, ao contrário das orientações que via nas igrejas reformadas (eu venho de uma cultura pentecostal) de autoridades formadas e aprovadas, os novos “líderes” reformados pouco tinham a acrescentar, senão uma série de textos e vídeos com assuntos muito mais polêmicos do que de ensino bíblico. Seguido de uma série de criações de páginas em redes sociais que tem como único objetivo depreciar figuras históricas do cristianismo do passado ou contemporâneo.

Qual o problema disso? O mesmo problema que vemos nas igrejas neopentecostais e na fragilidade de suas pregações e deformações teológicas.

Com 30 anos comecei a escrever para blogs, pouco depois de ter conhecido a teologia reformada, com quem havia tido o primeiro contato apenas 3 anos antes. Lembro de uma vez o Leonardo Gonçalves (Púlpito Cristão) ter me dito que um dos meus textos era “meio arminiano, meio calvinista”. Hoje, quando olho para alguns destes textos, reconheço inúmeros erros teológicos em definições básicas do calvinismo. Não era por tolice ou ignorância, tinha formação em Teologia e em História e sei como se faz uma leitura objetiva, uma pesquisa ou mesmo uma tese. Acontece que meus erros estavam muito mais ligados a percepções pessoais que eu tentava moldar a Palavra, indo de encontro a Teologia da Graça que encaminha o homem a ser conformado pela Palavra e não o contrário.

O que tenho visto nos “jovens reformados” é o mesmo para algo um pouco pior. O Youtube e o Facebook acabaram por se tornar palanques para suas posições pessoais sobre política, economia e religião sob a cortina de discurso reformado. Se aplicam algum conceito reformado aqui, o abandonam no próximo vídeo ou texto para defender uma posição pessoal. Somando-se a isso um culto a intolerância e ao ódio àqueles que discordam de suas posições, não teológicas, mas pessoais.

É saudável e realmente renovador para a igreja que a cada dia exista um interesse de jovens em buscar conhecer a Teologia Reformada e vive-la. No entanto isso não é uma moda. Isso não é salto social dentro da igreja, se você quer isso visite e congregue uma igreja neopentecostal. Lá é o lugar para se produzir pequenas estrelas-(de)cadentes que tem como objetivo o pequeno poder e a fama.

A Teologia Reformada é a teologia da Soberania de Deus, da Insuficiência humana e da Glória devida somente Aquele que criou os Céus e a Terra.

Soli Deo Gloria

Publicado originalmente no blog Púlpito Cristão em 13/03/2015.