O primeiro passo neste texto é definir o que é um desviado. Popularmente
dentro de uma teologia que crê que o homem pode “perder” a Salvação, crê-se que
desviado é aquele que converte-se a Cristo, tem seus pecados anulados na Cruz,
torna-se salvo, nasce de novo, recebe o Espírito Santo de Deus, Cristo começa
até a construir uma casa para ele no paraíso e por fim ele abandona a Fé (dando
inclusive um baita gasto pro Reino de Deus que terá que dispensar os anjos-pedreiros*).
Dentro da Teologia Reformada, obviamente não existe espaço para essa
figura do cristão desviado. Não cremos que aquele que conheceu a Cristo e foi
liberto da escravidão do pecado e ressuscitado da morte por Ele perca-se, pois
em Cristo reside toda nossa Esperança e Segurança: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também
justificou; aos que justificou, também glorificou.” (Romanos 8.29-30 NVI). Mas
existe sim a figura daquele que a Palavra descreve em Hebreus 6.4. Que não
consideramos “desviado”, mas como o apóstolo João explicou em sua primeira carta
(1 João 2.19): “saíram porque não eram
dos nossos”. Isso deixa claro que para “reformados”, “uma vez salvo, salvo
para sempre”, isso no entanto não significa que todos que vão a igreja são
salvos apenas porque disseram sim em uma apelo ao final do sermão. Nossa
definição de “Salvo”, é completamente diferente.
Definido o que é um desviado voltamos a pergunta do título: De quem é a
falha?
Alguém tem culpa nesse cartório e só podemos culpar o homem, já que Deus
é Justo, Santo e Perfeito. Também não podemos culpar satanás, pois ele age
conforme a permissão de Deus e Deus nunca colocaria sobre o homem uma tentação
que ele não pudesse suportar, como aprendemos em 1 Coríntios 10.13. Logo,
apenas o homem pode ser culpado... quem leva a culpa então? Sim, leva a culpa o
que se perde. Mas segue-se aqui um ensino bastante interessante que temos no
Antigo Testamento. Em Ezequiel 33.1-9, Deus apresenta a Ezequiel a
responsabilidade do atalaia sobre os homens. SE é responsabilidade do homem se
defender das flechas do inimigo e preparar-se devidamente para a batalha, é
tarefa do atalaia avisar da aproximação do inimigo.
Quantos pastores simplesmente deixaram de ser atalaias porque avisar do
mar de trevas que se aproxima é péssimo para alguém que quer apenas carregar
boas notícias? Atalaias estão permitindo que soldados morram porque estão mais
preocupados com suas posições eclesiásticas e sociais que com sua posição de
submissão a Deus.
No entanto, o grande problema dos pregadores e líderes cristãos
contemporâneos é o conceito de Salvação que têm. Pessoas salvas são aquelas que
respondem ao apelo e começam a vir aos domingos, entregam seus dízimos e suas
ofertas e eventualmente participam de algum ministério ou programação promovida
pela igreja. Péssimo conceito a ser adotado. Pois no afã de aumentar seus
números, sua arrecadação e junto com isso seu prestígio junto à comunidade
evangélica, pastores barateiam o Evangelho. E como isso é feito? Separo em três
pontos:
1º. Simplificação do Evangelho: simplificação aqui não é tornar a
Palavra de fácil entendimento, isto seria e é pedagogicamente correto. Ensinar
a Bíblia para um letrado e diferente de ensiná-la para um analfabeto, ou do
ensinar a Palavra para uma criança ou adulto. Não é dessa simplificação. A
simplificação que falo é a simplista. A Palavra perde todo seu teor poderoso
para transformar o homem e é transformada em um ralé manual de “uma vida
melhor” ou “uma vida vitoriosa”.
2º. Abandono do Ensino das Escrituras: se já tornou a Palavra apenas um
adendo a todo tipo de programação antropocêntrica a que a igreja está
mergulhada. Com tanto tempo dedicado a teatro, música, chá das senhoras,
futebol, reunião dançante, almoço de casais, jantar de solteiros etc. O tempo
dedicado ao Ensino das Escrituras é substituído por eventos que acredita o
pastor, são mais fortes para segurar e atrair novos membros.
3º. Adoção de métodos de crescimento de igreja: Veja, uma coisa é você
adotar um método de ensino da Palavra, como a EBD, ou de evangelismo, método de
abordagem ou coisas do tipo, que podem ser uteis, principalmente para novos na
Fé. Métodos para crescimento de igreja não são isso. Modelos como G12, M12 ou
MDA, por exemplo, são métodos baseados em modelos administrativos que visam o
crescimento da igreja unicamente pelo crescimento. A igreja (instituição)
cresce, mas a igreja (noiva de Cristo), nem mesmo nasce nesses lugares. Crentes
raquíticos e uma igreja fraca, resultado, grande rotatividade da membresia e
elevado número de desviados ou “crentes carnais” (mais um dos absurdos
conceituais da igreja contemporânea). Adotar um método de crescimento é um
atestado de que este líder ou pastor não confia no poder sobrenatural da mesma
Palavra que criou o Universo tem agora o poder para Salvar. Como está escrito
em Jeremias 17.5: “"Maldito é o homem que confia nos homens...”, e isso
inclui seus métodos para inchar igrejas.
Tenho uma teoria, é apenas uma teoria mas tenho bons argumentos para
ela. Se uma igreja recebe muitas pessoas mas elas não conseguem ficar muito
tempo sentadas nos seus bancos, é porque talvez não tenha sido gerada nenhuma
Fé para Salvação em suas vidas. Elas podem estar bem alimentadas quanto a
relacionamentos e ter uma vasta carta de programação para preencher o vazio de
suas vidas pouco sociais por toda uma semana, quem sabe um mês.
Mas se os pastores dessas igrejas parassem para ouvir suas próprias pregações,
talvez encontrassem o erro que tem transformado suas congregações em parada de
ônibus e não em aprisco para ovelhas. "A Fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10.17)... então
talvez o que eles estejam ouvindo não seja a Palavra de Deus... e este é só um
dos argumentos."
*anjos-pedreiros não existem, então se
alguma denominação neopentecostal começar a utilizar este anjo para alguma
coisa vou cobrar direitos autorais.
Publicado originalmente no blog Electus, em 10/03/2015
Parei no "anjos pedreiros" ... excelente.
ResponderExcluirVoltarei para ler o texto completo.