Com trinta anos tenho muita coisa para lembrar... um outro tanto para esquecer (que eu realmente gostaria de esquecer). Estive no meio dos pentecostais, dos reformados, dos meio reformados meio pentecostais, dos que não sabem o que são e de outros seres dessa fauna gospel tupiniquim. Já presenciei e fui seduzido pela "unção do riso", pelo "cair do espírito", pelo "sapatinho de fogo". Vi gente imitando leão, pássaro, boi (ou vaca), gente falando em línguas estranhas e em línguas "muito estranhas". Já ouvi interpretações de línguas e já vi muita falta de discernimento também. Já vi endemoniado e gente tão cheia de si que poderia ser declarado semi-deus. Escutei pregações superficiais, muito-superficiais e algumas coisas que não poderiam nem mesmo serem catalogadas como simples diálogos.
Sempre que refaço os passos nos quais o Meu Deus me viu caminhar. Resta-me tão somente agradecer por não ter nenhum livre-arbítrio.
Por minha própria vontade ("vontade") continuaria no mesmo caminho do engano. Não pararia minha busca pelo sobrenatural, pelo fora do "normal", pelo extravagante e pelo exótico. Minha alma continuaria a importar mundanismos fantasiados de Verdade. Orgulhoso de um falso evangelho, escravo da mentira e buscando na Palavra um guia mágico. Um amuleto sem sentido, um símbolo sagrado tornado em pagão.
Ainda me sentiria satisfeito com palavras de exaltação do homem, pobres de Verdade, ricas de humanismo e eivadas de psicologia evangélica. Ainda me sentiria aliviado após um apelo de final de culto. Após um ato profético. Correria em vão um caminho que conduz ao inferno. Estúpido, galgaria por uma estrada construída por homens para homens.
Quando o Espírito Santo do Senhor mostrou-me pela misericórdia daquele que foi crucificado por mim, daquele que me escolheu antes mesmo que algum pecado a mim pudesse ser imputado, a minha incapacidade de escolher a Verdade. A minha incapacidade de cumprir a doutrina. A minha incapacidade de decidir pelo certo. quando isso aconteceu... foi o melhor dia da minha vida.
O dia em que ouvi: Eu te escolhi! Maravilhosa Graça. Eu nunca poderia ter feito uma escolha assim. Eu nunca teria escolhido o Deus Verdadeiro... eu sempre escolhi a mim... não faria diferente nem em um milhão de dias.
Não perguntei: Senhor, por que me fizeste assim? Por que não me deste escolha? Não era hora de reclamar... eu não tinha motivos para contender com o Criador. Ele havia com muita paciência suportado um insolente, uma criatura rebelde, um hipócrita. Eu ainda estava vivo, não havia sido consumido... Ele mostrara Seu incomparável Amor. Não levou em conta minhas fracas tentativas de atraí-lo mas me atraiu. Perdôou-me por ter acreditado na minha força e mostrou-me o quanto sou fraco. Sustentou-me com a ponta de seu dedo mínimo...
Irresistível graça!
Quem pode resistir?
"...como pode o homem ser justo para com Deus? Se quiser contender com ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá responder. Ele é sábio de coração e grande em poder; quem tentou resisti-lo e saiu ileso?" (Jó 9.2-4)
Daniel
ResponderExcluirPré-destinação, livre arbítrio... muitas dúvidas, poucas certezas:
(o exposto aqui não tem o objetivo de criticar, mas de tentar aprofundar a discussão sobre o assunto e trazer um pouco de luz há minha ignorância)
Então vamos lá...
Partindo da posição que Pré-destinação realmente existe as pessoas não poderiam ir para o inferno. Se foram criadas e pré-destinadas para rejeitar a Cristo não teriam culpa, conseqüentemente não podem ser condenadas (a não ser que mesmo sem culpa as pessoas possam ir para o inferno). Seria como culpar e condenar um leão por matar sua presa. Dessa forma os seres humanos seriam como robôs “programados” para determinados fins. Não escolhem nada a penas fazem o que foram “programados” para fazer. Pré-destinação tira completamente a responsabilidade individual das pessoas pelos seus atos.
Alguém poderia dizer: Deus me fez assim, que culpa tenho eu por ser como sou. Tentar ser diferente é inútil, pois seria como tentar lutar contra Deus e vencer, o que é impossível.
Conclusão: Se não temos livre arbítrio e somos pré-destinados para salvação ou condenação e se realmente não temos participação na salvação, analogamente, também não podemos ter participação na condenação. Portanto, se a salvação não é por merecimento a condenação também não pode ser. (fato que a bíblia não defende)
Mas...
(Tg 2:24) Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé (...) Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta.
(Rm 2:6-8) Deus recompensará a cada um segundo as suas obras....
(Jr 17:10) Eu sou o Senhor que esquadrinho o coração, e que sondo os afetos; eu dou a cada um segundo o seu proceder, e segundo o mérito das suas obras.
Entretanto...
Gálatas 2:16 - Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
(É difícil para eu conciliar isso tudo)
Prosseguindo...
Outro ponto fundamental é que se Deus pré-destinou pessoas para o inferno, esse fato se chocaria com a certeza que temos que Deus é bom e misericordioso. Certamente um Deus bom e misericordioso (que fez o homem a sua imagem e semelhança) não criaria pessoas deliberadamente para sofrer eternamente no inferno.
Por outro lado se cremos em um Deus onisciente e onipotente, certamente em algum nível ele pré-destinou tudo. Se Deus sabe todas as escolhas que as pessoas farão (mesmo que ele não tenha “programado” elas para isso), ele poderia escolher não criar aquelas que o rejeitam, que caminham para o inferno. Dessa forma, ele escolheu deixar que as pessoas que o rejeitam nasçam e acabem indo para o inferno (o que não deixa de ser uma pré-destinação).
Talvez a pergunta decisiva para esta questão é: qual o nível de intervenção de Deus nas decisões fundamentais que os seres humanos fazem com relação à salvação?
Total, parcial, ou nenhum?
Sinceramente eu não tenho essa resposta.
Grande abraço,
Leandro Alcaria de Oliveira
E aí Leandro... bom. Não é apenas uma pergunta que fizeste e isso exigiria uma conversa ou a troca de muitos e-mails. Vou tentar fazer uma pequena intrudução e depois tratar, parágrafo a parágrafo.
ResponderExcluirPrimeiro. A questão pricipal não é a PREDESTINAÇÃO, mas a EGENERAÇÃO. Não é o crer na doutrina da graça (eleição) ou predestinação um pré-requisito para salvação, mas a REGENERAÇÃO. Produzida por Deus no homem.
Para que eu aceite no entanto essa doutrina preciso primeiro aceitar 5 requisitos (conhecidos como 5 pontos do calvinismo). Sem eles, ela não faz sentido e não é verdadeira.
1. O homem é totalmente depravado; 2. a eleição é incondicional; 3. a expiação é limitada; 4. a vocação é eficaz, isto é, não pode o homem resistir à Graça; 5. os eleitos perseveram.
Agora vamos aos seus parágrafos:
"Partindo da posição que Pré-destinação realmente existe as pessoas não poderiam ir para o inferno. Se foram criadas e pré-destinadas para rejeitar a Cristo não teriam culpa, conseqüentemente não podem ser condenadas (a não ser que mesmo sem culpa as pessoas possam ir para o inferno)... Pré-destinação tira completamente a responsabilidade individual das pessoas pelos seus atos."
Pois bem. Todo homem é reponsável pelo seus pecados. E eles são intransferíveis. Cabendo a cada um dar conta dos seus atos (Rm 14.12). Mas nós não fomos programados nem para não pecar nem para pecar, nós simplesmente nascemosm em pecado (em pecado me concebeu minha mãe Sl 51.5)
Pedro escreve: Sede santos porque eu (Deus) sou Santo. Pois bem, este é o padrão. Você consegue atingir este padrão? Não, nem eu, então somos igualmente culpáveis e responsáveis pela nossa condenação. No entanto, Cristo, atinge este padrão por nós, morrendo sem pecado pelos nossos pecados. Ele cumpre em nós algo inacessível a mim. E mesmo não merecedor recebo de graça a Salvação. Não sendo responsável pela minha Salvação, mas completamente culpado se condenado.
"Conclusão: Se não temos livre arbítrio e somos pré-destinados para salvação ou condenação e se realmente não temos participação na salvação, analogamente, também não podemos ter participação na condenação. Portanto, se a salvação não é por merecimento a condenação também não pode ser."
Não, em absoluto. Nós não temos participação na Salvação mas sim na condenação. "todos morreram em Adão" (1Co 15.22), "todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus (Rm 3.23).
Veja, Paulo não está dizendo que o homem pode evitar o pecado, pelo contrário, ele afirma que todos pecaram, todos morreram. Também afirma nos mesmos textos, que Cristo vivifica e da redenção (leia na Bíblia os versículos seguintes).
Nós não merecemos a Salvação, nada fizemos para merecê-la. Mas tudo fizemos para merece a condenação. Sem este entendimento é impossível compreender este Evangelho.
continua...
Quanto aos versículos que citou. Não são difícieis de conciliar não. Primeiro o de Jeremias. Estamos falando de um livro da lei, ele então precisa passar pelo "filtro" neotestamentário.
ResponderExcluirO versículo anterior ao que tu escreveste diz: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?"
Pode as obras produzidas neste coração, partindo dele, serem boas?
Certamente não. Mas se lemos Efésios 2.10 o compreendemos: "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou de ANTEMÃO para que andássemos nelas." As boas obras são geradas em Deus para seus filhos. Não nascem no coração do homem, mas no coração de Deus (Jr 29.11).
Paulo não se contradiz no texto de Romanos, aliás, é na carta de Romanos que ele de forma sistemática explica a doutrina da graça (eleição). A recompensa, como podes ler nos dois versículos posteriores aos que escreveste, é de vida eterna para aqueles que buscam sua Glória e condenação para os demais. O capítulo 3 explica este 2º (os dois são um só). Todos os homens tem apenas más obras a apresentarem a Deus "Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus." (Rm 3.10-11)"
As boas obras que praticamos a praticamos como resultado da Fé e não como prova de nossa Fé.
"Outro ponto fundamental é que se Deus pré-destinou pessoas para o inferno, esse fato se chocaria com a certeza que temos que Deus é bom e misericordioso. Certamente um Deus bom e misericordioso (que fez o homem a sua imagem e semelhança) não criaria pessoas deliberadamente para sofrer eternamente no inferno."
Aí você afirma que "certamente" conhece a mente de Deus. Crê que seu julgamento é reto e justo a ponto de julgar os porpósitos e motivações de Deus. Acredita poder, supor o que Deus pensa. Então deixo alguns versículos para sua reflexão:
"Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?" (1Co 2.16)
"Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos." (Is 55.9)
"Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam." (Is 64.6)
"Seria porventura o homem mais justo do que Deus? Seria porventura o homem mais puro do que o seu Criador?" (Jó 4.17)
"Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo?" (Jó 15.14)
"Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?" (Is 45.9)
"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.20)
É no mínimo... no mínimo imprudência... podendo se tornar em ousádia e terminar em soberba, ousar julgar o comportamente de Deus que é Santo.
continua...
"Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer." (Rm 9.18)
ResponderExcluirEssa é minha resposta para teu último questionamento.
"qual o nível de intervenção de Deus nas decisões fundamentais que os seres humanos fazem com relação à salvação?"
TOTAL
"E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou." (Rm 8.30)
Tudo inicia e termina no Senhor. A obra dele é perfeita e já consumada na Cruz (Jo 19.30). Independe de qualquer participação ativa do homem para que a obra de Cristo seja perfeita. Ele é. Ele é. "Eu SOU". ele existe e subsiste independente de homem.
Todas as coisas foram criadas por ele e para ele... não por mim nem para mim. Sou apenas uma demonstração do amor de Deus "Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou"(Rm 9.23).
Essa compreensão não passa pela razão humana. Por uma compreensão que possa conquistar pelo meu intelecto. É algo espiritual. Descende da parte de Deus.
A Palavra é para mim a Verdadeira Palavra de Deus. Soberana, absoluta, suficiente e eficaz para transformação do homem.
A Soberania de Deus é absoluta. Não é parcial. Não há um único dia meu que já não fora escrito. Não existe um único fio de cabelo meu que não foi contado. Isto é crer em Onipresença, Oniciência. Resultado de Sua Soberania. Ele não sabe de antemão. Ele O SABE. Simplesmente. Porque antes que houvesse o primeiro dia ele já sabia.
"Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;" (Ef 1.4)
"Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;" (Mt 25.34)
quanto a Sobernaia um versículo.... apenas um bastaria:
"Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei." (Is 55.11)
Soli Deo Gloria
Sugiro a leitura de textos no site "Eleitos de Deus", com link na barra lateral deste blog.
ResponderExcluirMas também, o que um reformado não faria, sugiro porucrar textos arminianos. Prove-os na Palavra.
Deixe-a te guiar pelo Espírito. Não por vista.
Pax
Daniel
ResponderExcluirMuito obrigado por responder meus questionamentos.
Vou procurar ler mais a respeito do assunto. Ainda tenho dificuldade em aceitar tua posição a respeito desse tema, embora sejam muito fortes e bem embasados. Tenho, talvez por natureza, a tendência a não fechar meus olhos para bons argumentos e tentam seguilos até onde me levarem, mesmo que não pretenda comprá-los(ainda).
Talvez tudo isso (inclusive nossa conversa e os resultados dela) já tenha sido pré-destinado...
Talvez não!
Grande abraço,
Leandro A. Oliveira