Quantas vezes você já parou para pensar na Trindade? Certamente alguma vez você se fez essa pergunta, aí questionou alguém que você julgava saber mais que você, e achou tão complexo o assunto e talvez tão “irrelevante” para sua Fé, que logo abandonou o interesse. Talvez, para não ficar solto na sua mente, adotou algum sistema ou alguma analogia para quando perguntado usá-la, mas nada além disso.
Não sou muito inclinado ao uso de modelos ou analogias que expliquem a Trindade. Por muitos anos usei e pensei em diversos sistemas que simplificavam a explicação e me davam algum conforto para crer em algo tão absurdamente maravilhoso. Ainda que exista uma boa intenção nessas reduções para se explicar a Trindade, creio que todas elas apresentam elementos que podem confundir as três pessoas ou mesmo separá-las de forma a destruir esta unidade. Minhas concepções a respeito de como entender e explicar a Trindade mudaram quando em um congresso de teologia ouvi um respeitado teólogo perguntar a plateia quantos ali entendiam a Trindade, muitos levantaram as mãos (inclusive eu), e como resposta recebemos: “– depois desta reunião gostaria muito de conversar com cada um de vocês, pois eu ainda não entendo a Trindade. Eu creio nela, mas não a entendo”.
Meu objetivo com esta série de estudos que começamos hoje não é apresentar uma visão complexa e dispersa das doutrinas fundamentais do cristianismo, mas de forma simples e sem ser superficial, dar suporte a quem se interessar a aprofundar os seus estudos bíblicos sem o medo de encontrar no caminho um labirinto de onde não pode sair. A Palavra Deus é de uma clareza espetacular, seus textos foram inspirados por um ser espiritual e de mente inalcançável, mas foi escrito por pessoas simples, muitos deles sem nenhum grau de instrução formal e que recorreram a outros para que suas palavras pudessem ser escritas. A Bíblia não é um enigma, a Bíblia é o texto mais claro já concebido, nenhum tutorial na internet é tão claro, tão objetivo e perfeito quanto as Escrituras Sagradas.
No entanto, é o Espírito Santo, uma das três pessoas da Trindade, que nos capacita a entender a espetacular Palavra de Deus (outra pessoa da Trindade) e a partir dela compreender o sacrifício realizado na Cruz por Cristo (uma outra pessoa da Trindade). Necessitamos desesperadamente dele para compreendermos a Sua Palavra.
No Novo Testamento, temos claramente apresentadas as três pessoas da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são retratados de forma fiel como sendo: Co-Eternos e Co-Iguais. Eternos por que desde o princípio eles existem (Gênesis 1.1-2 e João 1.1-3 – Aconselho que durante a leitura você interrompa e leia estes textos, acredite na Palavra de Deus, não apenas no que eu escrevo. Use uma Bíblia on-line para facilitar). Eles também são iguais, mas não os mesmos. Veja, se você for a uma loja poderá comprar uma TV de Led fabricada pela LG, e seu vizinho também poderá comprar uma TV de Led fabricada pela mesma empresa, elas são iguais, mas não são as mesmas. Logo, “Iguais” não é sinônimo de “mesma”.
Durante muito tempo, e ainda hoje, várias correntes doutrinárias tentaram explicar a Trindade, muitas deles incorrendo em erros teológicos graves (heresias), que em algum ponto colocavam-se contrários aos ensinamentos bíblicos. Como o “Modalismo” ou “Sabelianismo”, que reduziu a Trindade a um único Deus que hora se apresenta com Pai, ora como Filho, ora como Espírito Santo. Uma das explicações comuns a se ver na Trindade, ainda hoje, é da analogia com a água. Dizemos que a água pode se apresentar em três formas: sólida, líquida ou gasosa. Isso é verdade. Apesar das três formas distintas, é sempre água. Mas isso não é Trindade e é uma heresia. Pois Deus não se apresenta de três formas. Ele é Pai, mas não é o Filho, tampouco é o Espírito Santo. Ele não muda sua forma para cumprir uma função diferente, ele não pode ser comparado a água em diferentes estados, porque ele apesar de Ser Deus Pai, nunca será, Deus Filho. (Esse exemplo é apenas para demonstrar como nossas explicações, por mais bem intencionadas que sejam, podem ser extremamente perigosas).
Apesar de ser uma doutrina melhor compreendida a partir do Novo Testamento, já na Criação Deus apresenta-se por vezes utilizando a primeira pessoa do plural Nós: “façamos o homem a nossa imagem e semelhança…” (Gênesis 1.26) assim como Único: “… nosso Deus, é o Único Senhor” (Deuteronômio 6.4).
Assim temos que: Deus é Pai. O Criador que Governa o Universo e é Pai Espiritual de todos os que são justificados em Seu Filho, Cristo. Cristo é o Filho, ele é chamado de “Deus Forte e Pai da Eternidade” (Isaías 9.6), de “O Verbo que é Deus” (João 1.1) e de “Eu Sou” (João 8.58), mesmo atributo de Deus (Êxodo 3.14). Por fim, o Espírito Santo, recebe os mesmos atributos de Onisciência (1 Coríntios 2.11) e Onipresença (Salmos 139.7), entre outros.
A Bíblia então apresenta Jesus Cristo como sendo Deus mas em um relacionamento de Filho para com Pai. Eles são a mesma substância, compartilham a mesma inteligência, pensar, poder e atributos, a relação entre os dois é eterna e não existe uma relação de subordinação ou superioridade. O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade. Ele procede do Pai e do Filho simultaneamente. Mas não é inferior a nenhum deles, mas igual. A distinção entre eles é feita de forma funcional e subordinada as outras pessoas apenas em realizações específicas.
Como isso se explica?
O Filho (Cristo) submeteu-se ao Pai (Deus) para ser enviado ao mundo para morrer pelos homens (1 João 4.14) e obedece ao Pai até a morte de Cruz (Filipenses 2.8). O Espírito Santo, submete-se ao Filho para glorificá-lo levando homens ao arrependimento e conversão (João 16.14). Deus, perdoa o homem o justificando na obra de Cristo (Romanos 8.33). Assim, apesar de terem funções diferentes, possuem a mesma essência.
Por fim, temos que ter claramente uma coisa. A Trindade (termo que inclusive não encontramos na Bíblia) representa uma síntese de tudo que encontramos na Bíblia a respeito do Pai do Filho e do Espírito Santo. Ela está além da nossa razão humana de entendimento pleno, mas não contraria a nossa razão. O teólogo Don Green explica que pensar que “três pessoas é uma pessoa” seria um erro e uma irracionalidade, no entanto, pensar que “três pessoas é um Deus”, não contraria nossa razão, nem tampouco contraria a Palavra que Cremos e onde depositamos nossa inteira confiança. Portanto, creiamos na Trindade, não como um sistema ou modelo a ser decorado, mas como uma doutrina a ser por toda uma vida compreendida, pois é a expressão exata de nosso Deus.
Texto publicado originalmente no Pelo Amor de Deus, em 30 de março de 2015.
Série de Estudos Teológicos: Chá do Teo
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